Ando trabalhando tanto, num ritmo alucinado, que tenho aceitado todo tipo de café oferecido nas repartições públicas, durante o expediente, indiscriminadamente. Tenho levado ao pé da letra de que café faz bem para a saúde, dá energia, combate o cansaço e a depressão e ainda proporciona um pequeno prazer similar ao chocolate.
Pois bem, nessa maratona, eu e meus colegas (alguns fumantes, outros viciados em café assumidos) passamos a fazer um ranking do melhor e do pior cafezinho servido. Começou inocentemente nos gabinetes do Congresso Nacional. Depois de subir, descer, andar, correr e deslizar (na esteira rolante horizontal) por vários gabinetes, nos deparamos com um café expresso no gabinete de um certo deputado federal. A notícia se espalhou rápido.
- Prove esse aqui que é bom.
Além da fila que se formou, sempre que o encontro o deputado, me pergunto qual seria a marca daquele café.
Claro que não há nenhum barista entre nós, meros comunicólogos, mas, depois de tantas variações de café forte, fraco e com ou sem açúcar, passamos a aguçar os sentidos. Identificar, pelo sabor, se foi passado no filtro de papel ou de pano, foi um grande avanço.
Aliás, no ranking dos piores, a Secretaria do Esporte do DF ficou em primeiro lugar: café aguado, ultra-doce e ainda com gosto do pano em que foi passado. Nenhum de nós conseguiu passar do primeiro gole.
Em segundo lugar, o da secretaria onde trabalho depois que a copeira saiu de férias. Há pessoas que tem seu valor reconhecido somente depois que se vão: poetas, pintores, compositores e bons cozinheiros. O café da substituta não tinha rotina, nunca era igual ao outro. Cada dia uma surpresa pior.
Em terceiro lugar, o da Embaixada do Japão. O país tradicional no cultivo de chá, nos serviu chafé. Café aguado de boa qualidade, já viu isso?
Em quarto lugar, os cafezinhos dos ministérios servidos com adoçante líquido. Blergh! Por via das dúvidas, um dos colegas só toma sem. Eu desisti da dieta e peço açúcar. E não espere ser bem servido no gabinete da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ou em alguma secretaria especial com status de ministério. Os cafés de lá vêm do mesmo saco.
Em uma das minhas últimas pautas, cheguei a comentar com o garçom que estava fazendo um ranking. Além dele afirmar que eu iria gostar daquele, ainda se declarou o autor da façanha e me pôs DUAS colheres de açúcar na xícara; metade café, metade pó branco. Depois de duas horas de reunião, no segundo round, diante do atrevimento do garçom em me perguntar se eu tinha gostado, eu pedi sem açúcar para compensar o primeiro.
Constatei que os melhores cafezinhos são servidos nos tribunais do judiciário. O mais gostosinho que provei foi no gabinete de um certo ministro do Tribunal de Justiça. Mas, os do STF (Supremo Tribunal Federal) e TCU (Tribunal de Contas da União) também são caprichados.
Mas dentre todos, ainda mantenho meu conceito: melhor mesmo é tomar chá (sem açucar, por favor). Claro que para isso há toda uma ciência arragaida com a virtude da paciência. Não dá para tomar um chá com toda a tranquilidade que tal bebida exige no meio do corre-corre. Chá nunca foi bebida de workaholic, isso é coisa de passado. A onda agora é tomar café adocicado...