quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Lingeries de gaveta


Meu terapeuta sexual holístico tem razão. Quem quer saber sobre a migração das baleias?

Elas vêm todo ano para as águas rasas e quentes do Brasil para se acasalarem e nós ficamos só olhando. Então, resolvi aproveitar meu isolamento domiciliar imposto por uma conjuntivite viral e falar sobre lingeries já que não tenho mais o que fazer em casa.

Abri a o malbec Terrazas de Los Andes que ganhei da minha tia argentina. Ótimo momento de introspecção para arrumar minha gaveta de calcinhas, sutiens, meias e corpetes. Uma vez, o Silas Sequetim comentou em seu blog sobre a relação entre o vinho e a sexualidade feminina. É verdade que um pouquinho de vinho tinto nos deixa mais "soltinhas", porém também não é segredo que além da conta é desestimulante.

Coloco uma música alto astral para ter ânimo para o que vem por aí. Abrir uma gaveta é como abrir um baú de memórias. Estou em casa e quero me sentir bem, então passo meu perfume preferido, aproveito e renovo o sachê de gaveta, e começo a arrumar peça por peça das minhas recordações. Dobrar calcinhas, jogar fora as mais velhas, acrescentar as compradas recentemente e separar tudo por cor. Os sutiens são guardados abertos como recomendado pela vendedora da loja. As meias enroladas e separadas entre as do dia a dia e as de festa. Desde que uma 7/8 com silicone enrolou na minha perna e desceu no meio da rua, cinta-liga agora é um item indispensável, não mais decorativo.

Algumas peças usei apenas uma vez em momentos especiais. Acho que cada pessoa merece uma lingerie exclusiva. Não conseguiria repetir uma peça sexy com outra, então é melhor jogar fora ou deixá-la no fundo da gaveta para decidir mais tarde.

Faz tanto tempo que não faço essa organização que é possível traçar uma linha temporal e perceber como mudei nos últimos três anos.

Aos 30 anos, enfim, vejo o mundo com outros olhos. A ansiedade continua a mesma, porém, ando mais exigente. O que mudou? Os médicos não perguntam mais se você é virgem, só não perguntam se você é santa. Mulher de 30, balzaquiana, já deveria saber o que quer, já viveu muita coisa. Será?

As lingeries da minha gaveta há muito deixaram de ser simplesmente básicas e confortáveis. Sair de casa com uma lingerie sexy mesmo que seja para trabalhar levanta muito a estima. De todas as marcas, as que mais me agradam são a francesa Soleil Sucré e a brasileiríssima Fruit de La Passion.

Encontrei na gaveta umas lingeries vermelhas nunca usadas. Não havia reparado antes que preto e rosa são as minhas cores preferidas, descobri depois que as classifiquei por cor no guarda-roupa. Arranquei as etiquetas que me incomodavam, dificil saber de onde são.

Tantas lembraças... E umas tão cômicas como a vez em que o lacinho de uma calcinha desamarrou na rua e tive que andar como um robozinho até o provador da loja mais próxima. Aprendizado prático: laço tem que ser duplo sempre.

Na mesma gaveta encontrei as calçolas gigantes que me minha mãe me deu a pouco tempo com o conselho de que são ótimas para "firmar a barriga". Não sei o que fazer com elas, portanto, vão para o fundo da gaveta.

Outras, são praticamente tapa-olhos, recebidas de presente das amigas mais entusiasmadas no aniversário e Natal. Há também aqueles fios dentais que vêm obrigatoriamente no conjunto de um sutien maravilhoso ou corpete, super difíceis de usar. Vão para o fundo da gaveta!

Uma vez comprei uma grandinha, cor de rosa, tecido poá transparente. Achei-a tão meiguinha, mas não fez nenhum sucesso. De acordo com minha tia, essa é para aqueles dias de vida largada. Errei na escolha, acontece.

Enfim, termino de arrumar a bagunça. Concluo que preciso de um modelo branco nadador e um tomara-que-caia cor da pele para fechar o armário.

E amanhã é a vez dos sapatos!






,