sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Criando um Monstrinho


Eu tenho que dar uma satisfação aos leitores desse blog.

Passei o carnaval achando que estava com berne no pé e que teria pego na trilha que fiz no Tocantins para ver as incrições rupestres há três semanas. Depois de andar horas por uma trilha de deixar qualquer ser desesperado, tirei a bota apertada por 10 minutos para descansar. Então, fui picada no pé por um mosquitão.

Na semana seguinte, logo que cheguei na Bahia, no sábado, bem cedinho, passei na feira e comprei fumo de corda, seguindo a tradição popular. Botei no pé e tampei com bandagem por um dia. No final da tarde, depois da sofrida expremeção da mamãe, arranquei um berne do pé. Que nojo!

Queria ter cortado meu pé fora, se ele não me fosse útil. O Ulisses, de Brasília (DF), queria ver sangue e torcia pela decepação, já que eu não sou jogadora de futebol e nem escrevo com este membro (e ainda poderia concorrer nas vagas de deficiente físico nos concursos públicos).

Mas, havia outra ferida logo abaixo e eu sentia coceira. Passei mais fumo e nada. Passei na farmácia, no domingo, e comprei uma pomada multiuso (antiinflamatório, anti-bacteriana e analgésica) e nada. Fui no postinho de saúde, na segunda-feira, e o médico disse que eu teria que desinchar o pé primeiro para fazer uma incisão e ver se era realmente um berne, mas teria que fazer o procedimento cirúrgico em um hospital.

Se eu abrisse o pé, teria jogado o abadá fora e não pularia o carnaval com minha amiga Janaína. E de qualquer forma, hospital particular decente só na quinta-feira. Fui, como todos sabem, de pé inchado para a avenida, afinal ele não estava doendo. E ainda peguei gripe, me perdi dentro do bloco e fiz amigos na enfermaria e no camarote dos dodóis no trio elétrico.

Eu já estava até pegando amor pelo monstrinho no meu pé, eu dizia que em breve ia parir um berne. E todos me davam receitas malucas.

Minha prima zootecnista de Juazeiro (BA) dizia para eu passar éter, é o que os zootecnistas passam no gado. Ou então creolina. E que se o verme não desmaiasse, tentasse tocar fogo...

Ouvi mil conselhos de gordurinha de porco (toucinho) para atrair o bichano para o bacon. Outros diziam para pingar vela no respiradouro e tentar puxar pra fora. Ou gelo, água quente, álcool, fita crepe, urina etc. De qualquer forma, teria que passar pela situação nojenta e traumática (de novo) de puxar um corpo estranho com minhas próprias mãos. Achei melhor ir no médico, meus amigos estavam tentando me matar.

Hoje consegui ser atendida numa clínica com meu plano de saúde de Brasília, mas só por ser uma urgência. Tive que explicar que eu estava criando um monstro. Na Bahia não há casos de berne, isso é coisa dos Estados do Norte e Centro-Oeste.

-Berne??? O que é isso?

- Um verme gigante, cabeludo, nojento, que te devora por dentro.

O médico ficou curioso. Mandou dizer que ia me atender. Em 29 anos de profissão na Bahia só atendeu dois casos desses. Na primeira vez, ele retirou um bichano de 1,5 cm e quase saiu correndo assustado.

Sentei na maca e me prepararam para o pequeno procedimento cirúrgico. Achei melhor vigiar...

-Você quer mesmo assistir a este procedimento?

-Por que não?

-Acho melhor você deitar (com um olhar suspeito).

Imaginei cenas dos filmes de terror "A Mosca", "A Coisa" e os livros do Stephen King, então achei que realmente era melhor me deitar.

Ahá! Estão pensando que o meu berne já teria uns 5 cm, não é? Então vocês tinham que ter visto a cara de decepção do médico. Nada de bicho. Um pouco de pus e mais nada. Me cortaram a tôa.

Por via das dúvidas, me passou Ivermectina, Cefadroxil e continuar a Nimisulid receitada pelo médico do postinho. Ele acha que foi algum outro inseto que me picou e irritou a pele (viu, Ulisses?). Ufa!

O chato é ficar com o pé enfaixado em estado inicial de mumificação. Mas, quem pensa que eu iria gastar meus últimos dias de férias de molho em casa, se enganou novamente. Depois do almoço, fui descer o Rio de Ondas de bóia com um saco de lixo amarrado no pé.
Um cliente do meu cunhado acha que o verme me abandonou no carnaval durante a folia. Acho que nunca saberemos...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Ressaca de Carnaval


Eu sobrevivi!


E para não dizer que não peguei nada, peguei uma baita gripe neste Carnaval, estou com a garganta doendo e o nariz escorrendo. Entre mortos (um cara infartou e morreu ao lado do trio elétrico no encerramento da folia) e feridos (umas brigas de vez em quando), até que me sai bem, apenas com um pé inchado (e nem foi de cachaça) e a gripe.


Não tenho resistência alguma a chuva de madrugada, sono acumulado e overdose de axé music. Estou ficando velha, já não tenho pique para essas coisas de adolescente. Sobre aquela história de uma vez na vida e outra na morte: mais uma dessa e eu morro! Acho mais seguro voar de paramotor e dar uma de Indiana Jones do que pular seis dias de carnaval na Bahia.


Passei a última noite a base de energético e muita água de coco, já que estou tomando antiinflamatório e não posso beber alcóolicos. Fiquei na avenida até acabar oficialmente o Carnaval, pois Janaína partiria nesta manhã e queria aproveitar até o último momento.


Pena que o encontro dos trios em frente aos camarotes vips não foi como o esperado, nada de misturar os blocos e cantarem juntos a mesma canção. Mas, deu pra ver o sol nascer e assistir, literalmente de camarote, a polícia militar prendendo os encrequeiros de plantão. De cima, com vista privilegiada, tínhamos o panorama de todas as brigas de rua, as discussões de casais, a polícia levando gente e mais gente para o posto policial. Parece que como era último dia, os malandros da cidade que não brigaram, queriam brigar tudo de uma vez. A polícia levava dois, logo atrás vinha outra briga. Só não vi briga de mulher, isso é até engraçado de ver, pois é mais briga verbal (palavrões) e puxões de cabelo. Ganha quem arrancar mais tufos e rasgar melhor a roupa da outra.


A revista corporal para entrar no circuito da folia, o uso de detectores de metais, o policiamento ostensivo e a boa distribuição do público fez com que esse carnaval fosse bem tranquilo em relação aos anos anteriores.


Poxa, esqueci de me despedir da minhas amigas Su e Ju, as enfermeiras do bloco de carnaval que me atenderam todos os dias. Elas foram um amor com todos, atendiam os bêbados com a maior solicitude, até os que iam lá só para encher o saco. Descobri que além de mim, houve mais dois indivíduos que passavam umas duas vezes por noite por lá para usar o spray antiinflamatório. Pena que não nos encontramos para trocar telefones de fisioterapeutas.


Bem, não encontrei a Dalila e não beijei ninguém no bloco. Confesso que fui desanimando no meio da reta, ainda mais depois que fiquei perdida das amigas e da mamãe por uns 30 minutos. Que garota de 28 anos vai pular em bloco com a própria mãe? Só eu, é claro. E ainda se perde...


Bem, amanhã, quinta-feira pós carvanal, já poderei ir ao hospital levar meu pé para passear. Afinal, nesta quarta-feira de cinzas os hospitais devem estar cheios de cachaceiros tomando glicose na veia e médicos mau-humorados de ressaca.
Eu que não vou arriscar entrar com um pé ruim e sair com o sexo mudado...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Carnaval - Pulando no Bloco

Acho que devo uma garrafa de Whisky para o meu cunhado... Já que cerveja me embrulha o estômago. Somando isso com muita água de coco, estou até aprendendo a dançar axé.

Eu ia me enfurnar na chácara da mamãe, na beira do rio, mas usaram meu argumento preferido "Você tem que experimentar isso pelo menos uma vez na vida". Então lá se foi eu e minha amiga Janaína (ela mais animada do que eu, depois eu mais animada do que ela, em seguida ela mais animada de novo) pular o carnaval num bloco de trio elétrico.

Aquele verso de marchinha "Só não vai atrás do trio elétrico quem já morreu" é a mais pura verdade. No nosso bloco tinha cadeirante e uma mulher de aparador com rodinhas. Eles percorriam toda a extensão da corda mais animados do que nós. Era mais perigoso eles nos atropelarem do que qualquer um machucá-los.

Eu com meu pé inchado (literalmente), fiz até amizade com as enfermeiras do posto de plantão no carro de apoio. Ia duas vezes por noite lá aplicar um antiinflamatório em spray. E cada tipo que aparecia na enfermaria... Até agora não entendi porque um rapaz queria tanto enfaixar o braço se não tinha nada nele.

E quando eu não aguentava mais caminhar, era só subir no camarote do trio e apreciar a vista. O local já estava parecendo carro de apoio dos dodóis. Lá em cima conheci uma loirinha com o dedão enfaixado que sem querer jogou cerveja em mim... Ficamos amigas depois.

A estrutura do bloco é muito boa, no carro de apoio tem bar (muitas vezes com bebida mais barata), camarote, enfermaria e banheiros. No meio dos foliões vão os coordenadores do circuito e uma fila de seguranças para manter a ordem e impedir que pessoas que não fazem parte do bloco passem para dentro da corda.

Minha amiga Janaína merece o diploma de Jardineira (para quem não beijou ninguém), apesar do terrorismo da minha irmã, o bloco era muito tranquilo; ninguém saiu correndo, nos cercando e agarrando a força. Haviam muitos casais, mas os solteiros estavam até comportados, era só ignorar as tentativas e tudo seguia tranquilo.
Cansei de procurar a "Dalila" (Ivete Sangalo) e ouvir Janaína dizendo que queria "Beijar na Boca" (Cláudia Leite), os ritz desse carnaval. Já não somos adolescentes, acho que devemos ter cara de senhoras respeitosas (?!!) e entramos na categorias dos não-beijáveis na boca (crianças, velhinhos, bêbados, feios, desdentados, eu e Janaína)...

Criatividade é o que não falta aos foliões, cada um incrementa, recorta e costura seu abadá no modelo que quiser. Tênis ou sandália rasteirinha são o ideal para percorrer dois quilômetros de avenida. Mas legal são os acessórios criativos: perucas coloridas, óculos gigantes, penteados malucos, capacete espaçonal, máscaras etc. Assim se paga mico e ninguém sabe depois quem é.

Não vi brigas de rua e nem consumo de drogas, só um ou outro caindo de vez em quando bêbado e uns ataques de mulheres ciumentas. Mas, todo o circuito foi fechado pela Prefeitura Municipal de Barreiras e as pessoas eram revistados na entrada ou passavam por detector de metais. A Patrulha policial no meio dos foliões também era frequente. Os que não pularam nos blocos, camarotes, sacadas de prédio e arquibancadas, acompanharam os trios da pipoca (sem bloco) que, por sinal, eram os mais animados.

E para terminar a noite e começar bem o dia, acabávamos o circuito num barzinho tomando caldo de qualquer coisa estranha (mocotó, sururu, vaca atolada etc) para depois desmaiar na cama, em casa.
Pular de noite e dormir de dia, isso é a vida por seis dias na Bahia nesta época de folia. E eu admiro aqueles que continuam a bebedeira, durante o dia, nos bares e nas margens do Rio de Ondas.


sábado, 21 de fevereiro de 2009

É só na Bahia...


Eu e Janaína na Bahia. Tem coisas que não me surpreendem mais, mas há outras que conto e as pessoas acham que é piada. E como para minha amiga Janaína tudo aqui é novidade, resolvi calibrar minha capacidade de assombro para contar o que se vê somente aqui na Bahia.

A mensagem é bem clara logo na divisa entre DF e BA: Sorria, você está na Bahia.

Nada de estress, não tenha pressa, leve tudo no bom humor e na alegria. O povo é animado, criativo, alegre, fala alto, bebe muito e faz uns contorcionismos na dança além da nossa capacidade física.

Estou em Barreiras, no oeste do Estado, onde dizem que é o melhor carnaval de interior, onde mora minha família. Por mais que eu venha aqui umas duas ou três vezes por ano, não tinha notado que algumas coisas eram novidades para minha amiga.

Ela quase acreditou que o mendigo louco, sujo e esfarrapado era de verdade, e não um bem humorado professor de psicologia fantasiado. Ela achou engraçado, e um contra-senso, a Polícia Militar andar sisuda, em fila indiana, no meio dos foliões animados, sendo que os cordeiros (os caras que seguram as cordas do blocos) são os trabalhadores que mais se divertem no carnaval.


Ela nunca tinha visto tanta gente numa caminhoneta como a que passou, em frente a um bar badalado, com seis adultos amontoados na cabine. Ela também achou engraçado os rapazes bonitinhos passeando numa piscina improvisada com lona, em cima de uma caminhoneta, usando próteses de dentes tortos (afinal de contas, a finalidade era atrair ou espantar a mulherada?). Mas, deve ser porque ela ainda não viu o famigerado bloco das Negrinhas, onde os homens (assumidos ou não) saem vestidos de mulher.

Ela nunca tinha visto árvore plantada no meio da rua e nem o xampoo e hidratante de quiabo com mandioca para cabelo ruim (isso confesso, nem eu tinha visto). Mas, ficou encantada com os dançarinos bombados em cima do trio elétrico requebrando até o chão, no samba-axé, enquanto a mulherada gritava desvairada como num Clube de Mulheres.

E ficou chocada com a desleal concorrência feminina de barrigueira (microssaias e micro-shorts), pois as vestes sumárias praticamente só escondiam a barriga. Sem contar com a ginga sensual e desleal da mulher baiana. Mulheres do centro-oeste ficam no chinelo.

Mas, tudo isso aí ainda está dentro da normalidade. Até mesmo ir para a chácara e encontrar uma velhinha capengando, bêbada, na estrada. E dois dias depois voltar e encontrar a mesma velhinha, com a mesma roupa, só dois quilômetros mais perto. Talvez estivesse provando a qualidade da cachaça de cada boteco de beira de estrada até chegar em casa, vai saber.

O bom da Bahia, e qualidade do nordeste, é a boa recepção. Onde for, sempre será recebido como um verdadeiro turista. "Ei, bixinha, de onde tu vem?". "Vixi Maria, Nossa Senhora! Seje (sic) bem vinda!".

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Ninguém é de Ninguém


Faz tempo que quero escrever sobre isso. Mas, não tem nada a ver com o fato de ser véspera de carnaval e eu estar embarcando hoje para a Bahia onde, coincidentemente, minha família mora.

Eu sei. Há quem diga que isso é desculpa para trair, mas não é bem isso. Considero um enorme egoísmo achar que alguém nos pertence como uma propriedade. É uma questão de respeito pela liberdade dos demais. O livre arbítrio de escolher com quem, quando e onde queremos estar.

Cônjuge, namorado ou namorido não são nossos pertences, não deveríamos querer controlá-los. Filhos não são nossos, eles precisam partir um dia. Amigos não são nossos cães, também se magoam e querem novas diversões.

Ninguém é de ninguém. Pessoas são companheiras de viagem em uma jornada pessoal, mesmo sendo difícil entender quando elas querem partir e seguir sozinhas por novos caminhos. Se ela partiu é porque nunca foi sua, ou nunca a conquistou, ou o tempo juntos se esgotou e é hora de seguir em frente.

Enfim entendi o que é AMOR. Amar é realmente doar um pouco de si sem pedir NADA em troca. Sem jogar na cara que deixou de trabalhar para cuidar da família; sem dizer que ama e exigir a mesma resposta (mesmo que mascarada com um doce sorriso); sem querer obrigar o filho a cursar tal faculdade porque aquilo seria o ideal; sem obrigar sua melhor amiga a não ser amiga de alguém que você não gosta; sem dizer "eu fiz isso por você" como forma de barganha.

A gente ama sim, mas não deve esperar nada em troca. Nem o mesmo amor. Um dia todos partem, é o curso natural da vida: uma viagem, um casamento, uma mudança de país, um novo círculo de amizade, a morte. Porque essa vida é efêmera e não merece ser desperdiçada com violência (física, verbal ou emocional) ou cobranças.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

E o Uerê vôou...



Foi meu primeiro vôo fora de um avião.

Sentada em uma cadeirinha (selete), presa ao piloto e ambos suspensos a uma vela de parapente, ligamos o motor. A capacidade é de 16 litros, autonomia de 5 horas, mas o combustível nos daria apenas 20 minutos de alegria. Do alto da Serra do Lajeado, em Palmas (TO), fiz meu primeiro vôo radical num paramotor, parapente com motor.

Levei dois anos para tomar coragem e uma semana enchendo o saco do instrutor de vôo, Eli Ramos, 37 anos, arquiteto e amigo de longa data. O cara quebrou o recorde de altitude com paramotor, chegou a 4.416 metros e ficou em 2º lugar num desses Campeonatos de Manobras (o cara mais alto na foto). Eu queria voar enquanto todo mundo morria de medo das manobras do "louco" Eli.

Mas, ao contrário da mulherada eu queria experimentar a sensação dessas manobras no ar.

A senha era "Uerê vai voar", frase do personagem indígena Uerê, interpretado pelo então ator mirim, Pedro Gabriel, na novela global O Rei do Gado, em 1996. O indiozinho repetia essa frase constantemente quando soube que ia viajar de avião pela primeira vez.

Era só o Eli atender o celular para eu dizer "Uerê vai voaaaaaar!". Mas, havia um grande problema, o equipamento duplo, que permite duas pessoas voarem juntas, estava na revisão. E eu ia embora na segunda-feira, ora pois!

Mas o equipamento chegou no sábado e o Eli me deu apenas 15 minutos para ficar pronta, chamar a Rafaela, arrumar menino (o Ian, filho de 6 anos da minha anfitriã) e uma mochila para sair correndo. Nem deu tempo de pensar em desistir, só fui cair na realidade quando cheguei lá em cima e olhei para a beira do precipício. Será que enlouqueci também?

De um monte de instruções a única coisa que realmente entendi foi "Quando eu disser corre, você corre". E não deu tempo de mais nada, pois meus pés saíram do chão e quando percebi já estava no ar voando com os periquitos.



(Vôo de parapente em Palmas (TO), Serra do Lajeado. Foto: Tairone Carneiro)


"Não parece que você está sonhando?", o Eli dizia sintetizando tudo. Eu, extasiada, só ria, gritava e dizia "De novo!". Duas manobras em espiral, o paramotor desce rodando a mais de mil metros do chão. Adrenalina, adrenalina, adrenalina!!! A sensação de queda é aliviada pela aceleração centrípeta. Me senti o leite na leiteira, sem tampa, que a gente girava só para não vê-lo cair.

Medo de cair de avião? Não dá tempo de pensar em nada, é muito rápido. Acho que também não deve dar tempo de sentir dor.

De lá de cima dá para ver as revoadas dos pássaros (que eu queria seguir), as grotas de água no paredão, as trilhas da Serra, os mirantes onde terminávamos as baladas na adolescência e Palmas plena na imensidão do Lago da UHE de Lajeado - Luís Eduardo Magalhães.

Lá da rampa de decolagem da Serra, só se via o Barbosa monitorando o vôo, a Rafaela filmando tudo no celular e o Ian jogando pedra, tentando acertar a gente...

O vídeo da minha decolagem (o grito é meu):



Eu posei, como disse o Eli, com a desenvoltura de uma jaca madura. Botei o pé no chão e ploft! E Como eu estava presa a ele, e o motor nele, viramos uma massa só. Só faltou a vela cair por cima para ficar mais bonito. Os quero-queros (ave) é que não gostaram muito, pousamos perto do ninho deles. Alguém já levou um rasante de um pássaro?

E por duas noite não consegui dormir direito, fiquei sonhando que estava no ar. Passando por cima das árvores, sentindo o vento, achando que era um passarinho num sonho.

Valeu, Eli! Foi bom demais!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Primeira mão: a Vento Azul está de volta!


A Banda Vento Azul está voltando!!! E recebi essa notícia do próprio Adriano Hermano, vocalista, que inusitadamente encontrei no espetinho do Posto da Arse 22 no final desta tarde (Palmas tem disso).

A banda surgiu em 1998 e gravou um único CD: Araguaia. O som era um rock com mesclas de folk e blues. Seguiam um estilo politicamente correto, sempre falando da preservação do meio ambiente e de um futuro melhor. As letras e os arranjos eram muito bons. Era um vento que deixava uma sensação gostosa quando passava.

Comprei uns quatro cds, todos foram emprestados e não devolvidos. Dei de presente para amigos distantes até que os cds esgotaram e peguei o da Glês emprestado para não devolver mais. Como o crime não compensa, também me levaram ele.

Não sei porque a banda dissolveu, mas agora ela retorna sem o Jamaica, baterista, que foi embora. E ele dava show. Estou esperando para ver e ouvir os novos componentes. O Adriano me garantiu que o novo disco sai nesse ano.

Nosso amigo Eric era fã da Vento Azul, a ponto de decorar as letras e ir para a frente do palco cantá-las. E todo mundo para quem eu apresentava o disco, gostava de cara. Logo a gente se unia para acompanhar os shows. Até participamos de um dos clipes (tiete é foda).

Há anos que sempre que encontro o Adriano, pergunto da banda. Agora ele me vem com essa notícia. Acho ótimo, pois não aguento vê-lo "enternado" num órgão público. O cara nasceu com alma de artista e vai ser burocrata?

Ainda bem que dá tempo de voltar atrás, se a gente tem um pouquinho de coragem.
Quem quiser curtir o som da Vento Azul, é só baixar no hapidshare clicando aqui.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Domingo Gastronômico


Minha dieta foi por água abaixo nesse domingo.

Começou com a Rafaela fazendo panqueca em casa logo cedo. Em seguida fomos para um legítimo churrasco gaúcho na casa dos pais do Gustavo. À tarde passamos por uma sorveteria exótica. E encerramos o dia na Feirinha do Bosque com comidas regionais.

Na casa do Gu, ele era minha referência para apresentar a família para a Rafaela. "Fá, esse é o pai do Gu, a mãe do Gu, o avô do Gu, a irmã do Gu, a tia do Gu, a prima do Gu, o cachorro do Gu...". Só o Gu não apareceu.

Mas, como diz minha amiga, eu conheço as famílias inteiras dos meus amigos e me sinto em casa... Da família da Rafaela conheço até a tia-avó, Dona Edília, de Araguaína (TO). E a Fá diz que por causa disso, meus amigos têm que ficar dando notícias minhas. "Como vai aquela menina japonesa?". "Vai bem, está morando em Brasília". E por aí vai.

Seu Tupi, pai do Gu, me entupiu de picanha, costela, linguiça de frango e frango assado. Nem me deixou lavar a louça, que crime! De lá, juntamos uma parte da Família Nascimento e fomos para uma sorveteria de sabores do Cerrado, filial da Frutos do Cerrado, de Goiânia, (GO).

Então provei picolé de pequi, jatobá, mutamba, milho verde com canela e o melhor de tudo (recomendado "de com força" pela Fá): cajá-manga com sal. O sal é um detalhe que realmente faz a diferença. O picolé vem com um saleiro acompanhando.

Todos têm mesmo o sabor da fruta, com exceção do de jiló. Esse tem gosto de doce de figo e é muito bom.

Não dei conta de provar os outros sabores, mas para se ter uma idéia, o cardápio oferece picolés de araçá, araticum, buriti, café, cagaita, coco de guariroba, gabiroba, gravatá, jaca, jenipapo, mamacadela, melancia, murici e tapioca (mandioca). Qualquer um por R$2.

Bem, fim de tarde em Palmas é na Feira do Bosque, na Pç. da Prefeitura Municipal, uma tradição domingueira.

E não é que depois de quatro anos, o senhorzinho que fazia coxinha de mandioca (R$2) com carne desfiada ainda estava lá? E o mesmo gaúcho que faz cucas (De R$6 a R$9) também, mas agora ele diversificou o produto: pão diet, pão integral, rosca de coco e cucas de vários sabores.

A tradicional paçoca pilada (não chequei preço) continua fazendo sucesso, mas a novidade para mim foi a tapioca nordestina com carne de sol (R$3,5). Eu disse, "Eu sei fazer tapioca em casa". A vendedora rebateu, "Sim, aquela fininha com manteiga, mas não com coco ralado, carne desfiada, queijo e manteiga". Obrigada pela receita!

Pamonha, bolos recheados, empadão goiano, bolinho de milho etc. Jantar em casa para quê? Domingo a cidade inteira está na feirinha.

Tomei conta de menino dos outros, olhei os artesanatos de capim-dourado do Tocantins e no local mais óbvio para encontrar conhecidos, não encontrei ninguém. Mas eu curti muito o domingo-com-a-família-dos-outros. Ainda mais eu, pessoa solitária e com cara de cachorro que caiu da mudança. Todo mundo me adota. E eu continuo feliz!

Ah, doce férias!







sábado, 7 de fevereiro de 2009

Subindo a Serra do Lajeado



Tentei reviver os tempos viris da adolescência neste sábado, mas as articulações e adiposidade já não são mais as mesmas.

Mas eu fui até o fim. Subi, desci e cumpri com o percurso. Fui fazer uma trilha com uns amigos para ver incrições rupestres no paredão da Serra do Lajeado, Tocantins. Estou toda esfolada, arranhada por capim-navalha, picada por mosquito e abelhas, salpicada de urtigas, cheia de roxos, pernas e dedãos doloridos e com as unhas detonadas.

Até parece que briguei com uma onça. A onça mesmo a gente não viu, mas a pegada dela estava bem marcada numa grota d'água. Suspeitamos que ela estava dentro de uma peguena gruta, pois ao entrar e acender a lanterna, ouvimos um rosnado. Por via das dúvidas, foi melhor não mexer.

Gastamos metade do nosso dia tentando encontrar uma forma de atravessar um precipício sem ter que descer muito e ter que subir tudo aquilo novamente. Claro que depois todo mundo queria me matar pela brilhante idéia de seguir a grota. Ainda mais depois de convencer o irredutível Indiana Gu (Gustavo) a mudar de rota.

Com uma bota de trilha emprestada, molhada pela chuva, insuportavelemente suada e ainda meio quilo mais magra pela doação de sangue aos mini e mega-mosquitos, chegamos ao paredão. Tivemos que seguí-lo até o ponto indicado no mapa. Viva o Google Map!

Em alguns pontos críticos tivemos que usar uma corda para descer. E foi numa dessas que me dei mal. Meu pé escorregou e dei com os peitos na parede. Mas, eu tenho airbag! Esfolei apenas barriga e braço. Mas, enquanto o Gustavo ajudava o César a descer pelo mesmo caminho, olhei para trás e não contive um ataque de gargalhadas. Nosso companheiro Tiago dava a volta tranquilamente em volta da pedra que estávamos transpondo. Como não havíamos visto o óbvio??? Mistérios que Indiana Gu nunca soube explicar.

O momento mais emocionante foi o em que o César levou um capote na beira da grota. Ele escorregou nas folhas úmidas, desceu a ribanceira rolando, quicou numa pedra, passou por cima de outra e ainda caiu sentado! Depois disso, pensamos seriamente em amarrar uma cordinha nele para não correr o risco de perdê-lo.
Encontramos as inscrições pré-históricas, são semelhantes às catalogadas em Goiás, mas elas estão ameaçadas pela ação da natureza (sol, chuva e erosão) e pela ação do homem (pixadores e depredadores). Sem um projeto de conservação e visitação monitorada, a única forma de proteção é o sigilo da localização e a dificuldade do acesso.

Haja coragem! Voltamos mais mortos do que vivos. Bambuzais fechados, capins que cortam ao passar, abelhas furiosas, eminência de peçonhentos, (o César quase pisou num escorpião negro), terreno altamente escorregadio e com muitas pedras soltas e a incerteza de estarmos na direção certa.

Um desafio pessoal que quando alcançado dá o maior orgulho de chegar todo fedidão e esfolado em casa.


Hoje vou dormir feliz!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Férias!!!



Estou de férias!!! Estou viajando, a única coisa que sei é que daqui quase um mês eu volto para Brasília, mas o percuso até lá pode ser cheio de surpresas.

Demorei uns três dias para acreditar que ESTOU DE FÉRIAS! Mas, em uma semana já fiz um monte de coisas, menos estudar para o concurso público...

Fiz o faxinão na casa antes de viajar. Não há nada mais desagradável do que chegar saudosa e cansada no doce lar e descobrir que não colocou o lixo para fora antes de sair...

As plantinhas estão recomendadas aos parentes de plantão. A portaria avisada, as contas serão pagas pela internet, telefone e depósito em conta. Tudo checado e com a enorme mala debaixo do braço, fui para o aeroporto.

Destino: Palmas, capital do Estado do Tocantins.

A Glês, Fá e Ian me buscaram no aeroporto, saímos para almoçar e já topamos com mais amigos. Me acomodei na casa da Fá, minha irmã de coração, e me apropriei do notebook do pai dela quando ele o deixa em casa.

Faziam dois anos que não voltava nessa cidade pacata, quente (muito quente) e amistosa. A cada duas ou três quadras um conhecido na esquina e a mesma pergunta "Você voltou?" e a mesma resposta "Não, estou de férias".

Nesse meio tempo, já reuni amigos íntimos na praça, no meio da semana, para relembrar o tempo de adolescente. Bebemos os vinhos bons que compramos e quando eles acabaram, compramos vinho ruim num mercado 24 horas. Passei o segundo dia de ressaca, imprestável.

Já viram ressaca de dois turnos? Ressaca de vinho bom: sutil. Depois vem a ressaca de vinho ruim sobre a outra: lerdeza, sono e enxaqueca. Acordei boa e fiquei ruim no meio da tarde. Mas, eu posso fazer isso ao menos uma vez neste ano, afinal estou de férias.

No outro dia, encontrei os amigos mais velhos, casados, respeitáveis, numa pizzaria. Também passei uma manhã no salão de beleza lendo revistas de fofocas que normalmente não tenho paciência. E como para mim, férias tem que ser aproveitada em toda sua plenitude antes que acabe, arrumei um free lance desafiador.

Agora estou aqui, no norte do país, trabalhando, curtindo os amigos, curtindo as horas de folga e aproveitando o máximo possível os recursos naturais desta cidade.

Mas, o dia seguinte é sempre uma incógnita.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Daniel Briand - Um cantinho francês



Dicas são boas, mas boas dicas são melhores ainda. E essa, eu realmente tenho que agradecer minha amiga Marry Popins pela excelente indicação.

No plano piloto de Brasília, numa esquina quase escondida entre ciprestes e árvores da área verde da 104 Norte, encontrei Daniel Briand. Uma confeitaria francesa com um chef francês de verdade!

Deliciosas tortas, bombons exóticos (pimenta com manga é um deles), cestinhas de pães da casa (dá para provar um legítimo croissant), quiches, patês, vinho Côtes Du Rhône, música típica e garçons que falam francês.

Reduto de franceses em Brasília, francófonos, simpatizantes (como eu) e apreciadores gastronômicos. Junte essa turma no final da tarde para um café expresso e uma das maravilhosas tortas Le Briand, arremate com um dos bombons como sobremesa. Pronto, por algums horas é possível estar num café ou bistrô na França.

Um ambiente estilizado, valorizado nos detalhes, um lugar aconchegante à meia luz das lâmpadas amarelas.

Nas paredes, obras de artistas franceses. No chão, azulejos coloridos compõe os detalhes das portas. As mesas e cadeiras campestres estão espalhadas na calçada e se integram com a área verde. Um pequeno vaso com flores naturais do campo enfeita cada uma delas.

Os doces são expostos em vitrines de madeira, do chão ao teto. Um carrinho de sorvete, de fabricação própria, descansa na esquina para apurar o sabor entre um prato e outro.

Mas, o que realmente chama a atenção, e faz com que os garçons tenham muita paciência para esperar o pedido do cliente, são os cardápios estilizados. O conteúdo bilíngue é igual, mas as fotos que os compões tranforman-nos em álbuns de fotos documentais do interior da França.

Cada um possui uma composição diferente, em preto e branco, tiradas entre 1970 e 2007 pela fotógrafa brasileira Luíza Venturelli, esposa de Briand.

De acordo com a romântica história; Luiza, na época doutoranda em fotografia, conheceu Daniel, um chef da região de Anjou, num curso de gastronomia. Mais precisamente, num curso de croissant em um centro cultural de Paris. Ele, o professor. Ela, a aluna. Se apaixonaram e mudaram para o Brasil.

Da união da duas culturas nasceu a charmosa Daniel Briand Pâtissier & Chocolatier. "Queríamos que as pessoas encontrassem também a cultura, o belo e o charme de um ambiente francês", diz Luíza em seu cardápio-álbum.

A base dos doces ainda é feita por Briand. Ele conta apenas com o apoio de uma ajudante e ainda cria novos sabores. Daniel parece ser bem criterioso nos ingredientes e na confecção de seus produtos, tudo é feito de forma artesanal utilizando chocolate belga.

Alguns ingredientes são importados, outros são brasileiros, mas para isso ele percorreu vários lugares no Brasil em busca de ingredientes semelhantes aos usuais franceses.

A Daniel Briand Pâtissier & Chocolatier foi eleita pela revista Veja, em 2007, como a melhor confeitaria do Distrito Federal. Mas, opino, o charme da história do casal e a tradicional decoração dão um gostinho muito mais especial às delícias.

Acredito que charme tem sabor. E esta pâtissier tem muito charme.