sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Espelho, espelho meu, existe alguém mais desastrado do que eu?

Hoje eu caí na entrada do prédio onde trabalho.

Foi uma daquelas quedas constrangedoras em que a gente se desequilibra e, desengonçadamente, se estatela de bunda no chão. Sorte que não quebrei o salto no piso molhado pela chuva.

Me senti a própria Teresinha de Jesus que "numa queda foi ao chão", mas ao invés de "três cavalheiros com chapéu na mão", veio um porteiro muito solícito. Depois de convencê-lo que estava tudo bem, consegui entrar com dignidade no elevador para depois, sozinha, poder dizer "Céus, que dor!". Mais um roxo para coleção, ao menos desse me lembrarei onde adquiri.

Mas esses fatos são tão comuns na minha vida que já não morro mais de vergonha. Aprendi que a dignidade humana é psicológica ou uma questão de costume.

No caso, eu já acostumei.

Um dia desses fui tirar o mp3 de dentro da bolsa no vagão do metrô. Eu, de pé. O homem, sentado na minha frente. Quando puxei o aparelho, um absorvente higiênico simplesmente caiu no colo dele. Ploft!

Ele olhou espantado para aquilo. Eu sorri naturalmente (sim, eu consegui) e ele me devolveu. O absorvente voltou para a bolsa e nós prosseguimos como se nada tivesse acontecido.

Mas, já fiz pior. Cantei musiquinha infantil para o meu chefe quando ele perguntou que verso era aquele que eu estava sugerindo para o cartão do Dia das Mães. Cantei "fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas, nas mãos que sabem ser generosas... Não se lembra???". E não fui demitida.

Já tropecei nos degraus de um shopping num primeiro encontro. Já fui pular alguém deitado, embaralhei as pernas e acertei o saco com o joelho. Já fiz meu ex brigar no supermercado por carrinho de compras que não era meu. Já tive dor de barriga na melhor parte do filme no cinema.

Minha meia calça 7/8 com silicone já desceu ao atravessar uma larga avenida. Também já vesti uma calça descosturada nos fundilhos e fui avisada por um gentil casal de velhinhos que gritou do outro lado da rua movimentada: " ei, moça, sua calça está rasgada!".

Eu adoro velhinhos, eles são tão solícitos (ironia).

Outra vez entrei no vagão do trem com o mp3 ligado e sentei. Então as pessoas começaram a olhar umas para as outras enquanto uma senhora idosa gritava e apontava para fora. Então vi meu guarda-chuva sorrindo para mim, em cima do banco, me dando adeus. Pulei do vagão na hora.

Já saí correndo, míope e efusiva, para cumprimentar vários amigos e descobri, quando cheguei lá, que não eram meus conhecidos. E ainda fiz cara de espanto.

Mas, hoje foi o fim. Escrevo agora na tranquilidade do meu lar, depois de duas taças de vinho e um carpaccio improvisado, para ter forças para contar.

Para chegar aqui tive que tirar a sandália na estação do metrô. O piso parecia pista de patinação, era impossível dar um passo sem o risco de fazer uma abertura de 180 graus. Me agarrei à parede, pedi ajuda à funcionária da limpeza, apoiei-me no ombro dela e arranquei dos pés, as sandálias super-fashion-caríssimas da Arezzo. Isso no horário de pico do metrô, no setor comercial e bancário sul, onde todos os dias passam centenas de executivos.

Ainda com dignidade, fui à catraca. Então, um dos seguranças do metrô me abordou há uns 3 mts de distância:

- Moça, no metrô não é permitido entrar sem sapato.

- Mas eu estou escorregando!

- Moça, você tem que calçar o sapato.

- É sério, moço! Eu já caí hoje e agora quase de novo, logo na entrada. Eu vou calçar, mas só quando eu estiver num lugar seco e seguro.

Eu entrei. Parei na escada rolante, sobre mil olhares, calcei minha sandália de salto alto, desci, apoiei-me na parede e arrisquei um passo. Depois de constatada a firmeza do chão, andei os cinco passos mais longos até a porta do vagão.

Eu sei que tem coisas piores, mas eu pergunto, há alguém mais desastrado do que eu???

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Perfumes V - O Homem do Trem


O protagonista da minha saga sobre perfumes reapareceu.

Hoje, sentada sozinha num trio de cadeiras da estação do metrô, entretida entre meu mp3 e as funções do celular, uma sombra passou. E junto com ela veio um delicioso rastro de perfume. Olhei e me espantei: o Homem Perfumado sentado ao meu lado!

O mesmo senhor distinto, grisalho, bem vestido e do perfume bom de um dia desses.

Disse para mim mesma "é hoje". Desligo o celular e quando estou enrolando apressadamente o fone do mp3, me preparando para dizer "me desculpe, mas poderia me dizer que perfume você usa?", ele se levantou. Lástima.

Tentei, mas não o alcançei antes dele entrar no vagão. Acabei entrando no mesmo, mas em outra porta. Ele se encostou na parede longe de mim. Que homem difícil!

Então, inusitadamente, um bêbado resolveu puxar assunto com os passageiros, chamando a atenção das pessoas. Eu, encostada numa pilastra, passei a olhar o horizonte, olhar de indiferença.

Mas, ao me virar, quase caí de costas. O homem do trem estava parado de pé, ao meu lado, olhando o horizonte também. Com mais indiferença ainda.

Dou uma olhadinha para ter certeza: é ele mesmo, o mesmo homem grisalho, porém com uma destacável aliança na mão esquerda. É, ele é casado, seria muito indelicado eu perguntar qual era o perfume que ele estava usando? Pensei que se fosse com meu marido, eu iria odiar. Talvez seja melhor não perguntar.

Passamos a viagem inteira, de novo, próximos, mas sem trocar uma palavra. Na minha cabeça fiquei pesando a relevância de uma pergunta. E para justificá-la, passei a aguçar meu sentido.

Era um perfume doce e amadeirado. Como se ele tivesse passado minutos antes e a nota de cabeça ainda não tivesse evaporado... Ou seria o meu próprio perfume que me confundia? Enpinei o nariz, expirei de um lado, inspirei do outro e constatei: não era o mesmo perfume. Ia perguntar para quê?

Quando me dei conta, nossa estação chegou, ele desceu primeiro, se enfiou no meio da outras pessoas, subiu a escada rolante, atrasadíssimo e sumiu no seu próprio rumo.



Índice

Perfumes I - Percorrendo o mundo virtual dos Aromas

Perfumes II - Seguindo Aromas

Perfumes III - Que tipo de perfume combina com você?

Perfumes IV - Anotações no Café

Perfumes V - O Homem do Trem


quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Janeiro - mês da dieta


O primeiro dia do ano deveria ser O Dia Internacional da Dieta. A primeira meta de 2009 é emagrecer geral. A maioria dos meus amigos ultrapassou a marca do índice corporal saudável, então entrei na onda também. Mais porque desconfiei das fotos de final de ano e caí na real quando pisei na balança.

Os parques da cidade estão cheios de gente correndo, caminhando, passeando com o cachorro e filhos. Aquele povo sarado de academia deve estar na praia porque só vejo a turma "fófi" passar a caminho da sua labuta diária contra a balança.

O pior é começar sozinho, sem ninguém para lhe incentivar. Vai dando um desânimo... Então vi uma cena engraçada por esses dias: um rapaz correndo com seu cãozinho, abanando o rabo, sendo arrastado aos bofes atrás. O cara parecia compenetrado e empolgado na sua corrida. Mas, o Totó... literalmente não podia ver um rabo de saia, um poste, uma graminha, uma bicicleta. Devia ser a sensação de sair de casa pela primeira vez e descobrir o mundo! A cada paradinha para espiar o mundo que passava a 20km/h, um puxão no peitoral. Vai, Totó, conhecer o mundo!

E a falta de uma companhia maior de idade não é problema! Um carrinho de bebê traçado nas rodas traseiras resolve tudo. Lá se vão pai e filho, mãe e filho e até o casal unido carregando seu baby nas rodinhas enquanto fazem sua caminhada saudável.

Mas, a melhor imagem de força de vontade e sacrifício é reservada aos moradores do plano piloto de Brasília: a bela miragem de homens correndo de sungão ao meio-dia, de um domingo, no Eixo Monumental. Basta abrir a janela e contar com a sorte: um saradão ou um barrigudo, depende do seu dia.

Eu faço a minha parte. Cerveja? Em torno de 150 calorias. A cerveja escura tem mais de 200! Depois que descobri que uma taça de vinho tinto tem em média 100 calorias, saio com meus amigos e peço uma coca-cola zero.

Azeitonas, açúcar cristal, sorvetes, barras enormes de chocolate anti-TPM, pastel e frituras em geral agora só em sonho (Huuummm, adoro sonho.... Snif).

Enquanto os nutricionistas e os endocrinologistas não voltam de férias, o povo se vira como pode.

Ai, culpa do leitão assado, do peru recheado, do pudim de Natal, do bolo de chocolate, da rabanada calórica, da fome que guardei o ano inteiro para descontar no final do ano...