Foi uma daquelas quedas constrangedoras em que a gente se desequilibra e, desengonçadamente, se estatela de bunda no chão. Sorte que não quebrei o salto no piso molhado pela chuva.
Me senti a própria Teresinha de Jesus que "numa queda foi ao chão", mas ao invés de "três cavalheiros com chapéu na mão", veio um porteiro muito solícito. Depois de convencê-lo que estava tudo bem, consegui entrar com dignidade no elevador para depois, sozinha, poder dizer "Céus, que dor!". Mais um roxo para coleção, ao menos desse me lembrarei onde adquiri.
Mas esses fatos são tão comuns na minha vida que já não morro mais de vergonha. Aprendi que a dignidade humana é psicológica ou uma questão de costume.
No caso, eu já acostumei.
Um dia desses fui tirar o mp3 de dentro da bolsa no vagão do metrô. Eu, de pé. O homem, sentado na minha frente. Quando puxei o aparelho, um absorvente higiênico simplesmente caiu no colo dele. Ploft!
Ele olhou espantado para aquilo. Eu sorri naturalmente (sim, eu consegui) e ele me devolveu. O absorvente voltou para a bolsa e nós prosseguimos como se nada tivesse acontecido.
Ele olhou espantado para aquilo. Eu sorri naturalmente (sim, eu consegui) e ele me devolveu. O absorvente voltou para a bolsa e nós prosseguimos como se nada tivesse acontecido.
Mas, já fiz pior. Cantei musiquinha infantil para o meu chefe quando ele perguntou que verso era aquele que eu estava sugerindo para o cartão do Dia das Mães. Cantei "fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas, nas mãos que sabem ser generosas... Não se lembra???". E não fui demitida.
Já tropecei nos degraus de um shopping num primeiro encontro. Já fui pular alguém deitado, embaralhei as pernas e acertei o saco com o joelho. Já fiz meu ex brigar no supermercado por carrinho de compras que não era meu. Já tive dor de barriga na melhor parte do filme no cinema.
Minha meia calça 7/8 com silicone já desceu ao atravessar uma larga avenida. Também já vesti uma calça descosturada nos fundilhos e fui avisada por um gentil casal de velhinhos que gritou do outro lado da rua movimentada: " ei, moça, sua calça está rasgada!".
Minha meia calça 7/8 com silicone já desceu ao atravessar uma larga avenida. Também já vesti uma calça descosturada nos fundilhos e fui avisada por um gentil casal de velhinhos que gritou do outro lado da rua movimentada: " ei, moça, sua calça está rasgada!".
Eu adoro velhinhos, eles são tão solícitos (ironia).
Outra vez entrei no vagão do trem com o mp3 ligado e sentei. Então as pessoas começaram a olhar umas para as outras enquanto uma senhora idosa gritava e apontava para fora. Então vi meu guarda-chuva sorrindo para mim, em cima do banco, me dando adeus. Pulei do vagão na hora.
Já saí correndo, míope e efusiva, para cumprimentar vários amigos e descobri, quando cheguei lá, que não eram meus conhecidos. E ainda fiz cara de espanto.
Mas, hoje foi o fim. Escrevo agora na tranquilidade do meu lar, depois de duas taças de vinho e um carpaccio improvisado, para ter forças para contar.
Para chegar aqui tive que tirar a sandália na estação do metrô. O piso parecia pista de patinação, era impossível dar um passo sem o risco de fazer uma abertura de 180 graus. Me agarrei à parede, pedi ajuda à funcionária da limpeza, apoiei-me no ombro dela e arranquei dos pés, as sandálias super-fashion-caríssimas da Arezzo. Isso no horário de pico do metrô, no setor comercial e bancário sul, onde todos os dias passam centenas de executivos.
Ainda com dignidade, fui à catraca. Então, um dos seguranças do metrô me abordou há uns 3 mts de distância:
- Moça, no metrô não é permitido entrar sem sapato.
- Mas eu estou escorregando!
- Moça, você tem que calçar o sapato.
- É sério, moço! Eu já caí hoje e agora quase de novo, logo na entrada. Eu vou calçar, mas só quando eu estiver num lugar seco e seguro.
Eu entrei. Parei na escada rolante, sobre mil olhares, calcei minha sandália de salto alto, desci, apoiei-me na parede e arrisquei um passo. Depois de constatada a firmeza do chão, andei os cinco passos mais longos até a porta do vagão.
Eu sei que tem coisas piores, mas eu pergunto, há alguém mais desastrado do que eu???