domingo, 19 de outubro de 2008

Desorientados numa Noche Caribeña

Estou me tornando uma observadora.

Adentro um recinto eclético e é inevitável, sento e me delicio em observar as peculiaridades.

Fui a um baile caribenho, numa dessas casas dançantes de Brasília, e passei a reparar no público diversificado do local, gente comum e gente de todas as tribos: alunos e professores de cursos de dança de salão, emos, roqueiros, playboy e patricinhas, GLS – Gays, Lésbicas e Simpatizantes, acadêmicos, estrangeiros latinos e curiosos, como eu e meus amigos.

Tudo isso ao som de salsa, merengue e reggaeton. Mas depois de certo horário, a casa diversifica seus ritmos para agradar a todos: house, hip hop, funk e forró. Para decepção da namorada venezuelana de meu amigo.

A primeira coisa destoante que vi foi um senhor grisalho, de uns 70 anos, de suspensório, solitário. Mais tarde soube que era um professor da Universidade de Brasília (UNB) mais perdido que cego em tiroteio.

Depois vejo outro perdido. Um rapaz novinho, óculos, camisa manga longa sóbria, branquinho, nerd ou como disse uma amiga, “cara de quem curte rock inglês”, ou como eu diria “cara de quem veio trazido por um amigo sem noção”. Como uma figura dessas foi parar ali? Ele mesmo devia estar se perguntando pela cara que fez quando, de repente, o ritmo latino foi alterado para o nosso famoso funk carioca... Como o cara sumiu em seguida, deduzi que foi embora rapidinho.

E os playboys? Havia um especificamente de óculos que passou a ser ponto de referência para minha análise superficial em conjunto com minha companheira de observatório. Óculos podem dizer muito de uma pessoa... Reparamos nas possibilidades dos que usam óculos: nerds, estilosos, intelectuais, pseudo-intelecuais, pessoas que querem parecer intelectuais e os que não têm grana para lentes de contato.

Nosso playboy tinha um falso ar intelectual e passou a noite tentando investir em várias garotas, sem muito sucesso. As pessoas estavam ali mais interessadas em bailar. Era possível ver meninas dançando juntas, como um casal, se divertindo como amigas.

Passeando pela miscelânea cultural, notei um casal gay discreto num canto do salão, sentados em suas cadeiras, descansando da última música. Então, passou um emo querendo ir embora, mas a irmã dele parecia muito empenhada, com o namorado, no passinho da Macarena Venezuelana. Com um pouco de apelo dramático, eles se foram, juntos.

De um lado do salão, mocinhas esperando serem convidadas para uma dança. No outro, rapazes tomando coragem (tequila ou cerveja) para convidá-las, arriscando levar um não. E no meio disso tudo, o povo que realmente se sentia em seu reino, à vontade: os alunos de dança de salão, os professores com suas camisas com propaganda de cursos de dança e... os estrangeiros!

Foi então que reparei na maior concentração africana que já encontrei no Distrito Federal. Os angolanos. Quando eles chegaram notei a forma diferenciada de se vestirem. Pensei, "saíram de que escala temporal?". Rendeu-me bons minutos analisando o vestuário. Meninos: cabelo Black Power, faixa na cabeça ou boina, camisões compridos, tênis tipo all star. Meninas: flor no cabelo ou presilhas, shorts ou vestidos curtíssimos, acessórios coloridos, salto alto.



A Angola fica na costa oriental da África, quase ao sul do continente, a língua oficial é o português. Reconhecemos facilmente quem é de fora. Todo povo tem sua característica própria e os brasileiros têm um jeito de requebrar que impregna as danças mais exóticas, denunciando abertamente "sou brasileiro".

Estes africanos me fascinaram pelo jeito sutil e lento de dançar as músicas caribenhas mais animadas. Enquanto os brasileiros se matavam rebolando, rodando a parceira sobre a cabeça em coreografias artísticas; eles dançavam apenas com o quadril, num movimento moroso, sem pressa e com um ar de “não estou nem aí” e "não tenho pressa".

De par em par, foram tomando conta do salão. Parados no mesmo lugar, o único movimento era um lento e sensual ritmo dos quadris. A discrepância com nossos conterrâneos, de certa forma, causou um mal estar. De repente nos sentimos deslocados em nosso próprio salão tupiniquim.

Mas eu adorei!

3 comentários:

Ferreira Neto disse...

É, observar pessoas em seu elemento, ou fora dele, é sempre um desafio e uma diversão...
Mas deixa perguntar algo:
O menino tinha cara de "nerd" OU de alguém que gosta de Rock Ingles??
Não entendi não...

Todo nerd gosta de rock ingles?
Ou todo amante do rock ingles é nerd?

Rafaela Lobato disse...

Quando morava em goiânia, também gostava de ir aos salões de dança, até porque me aventurei pelas aulas de dança de salão e também me imressionada a quantidade de estilos que encontrava por ali.

Criska disse...

Ele tinha cara de nerd e de quem gostava de rock inglês, uma coisa não está necessariamente ligada à outra...rs