terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Natais e Reveillons Felizes


Até seria triste pensar que os melhores Natais e Reveillon que tive não foram com minha família, mas sim com um monte de desabrigados, expatriados e maiores abandonados em Palmas-TO. Ah, tempos bons e felizes aqueles. Quando não tínhamos grana, mas amigos solitários e solidários.

Era sempre assim, final de ano a cidade ficava deserta. Quem não podia visitar os parentes, ficava por lá. Então íamos juntando os maiores abandonados mais chegados. Era um mês de preparação, uma semana de organização e dois dias de farra.

Na falta de uma árvore, uma vez decoramos um cabideiro (de roupas) com luzes do Natal passado. Foi a árvore mais linda e cheia de presentes que já tivemos. Ela ficou carregada de presentes de amigo secreto chinês, presentinhos de R$1,99. E até mesmo os que tinham que cumprir o rito de passar com a família, deram um alô mais tarde.

Ainda bem que Nossa Turma era bem eclética. Só tínhamos que juntar a habilidade de cada um com nosso excesso de criatividade.

A Rafayellows era nossa cozinha-chefe. Maravilhas sofisticadas saíam daquelas mãos: risoto de maçã verde, pernil à pururuca, muffins etc. Na cozinha, era ela quem comandava. Com a lista de compras nas mãos, com os ingredientes mais baratos, lá íamos nós ao supermercado e à feira. O complemento da ceia era com frutas da estação. Castanhas, panetone, ameixas e pêssegos era um luxo muito raro na nossa mesa estudantil.

Ao menos posso me gabar do meu poder de barganha, que só não era maior do que o da mãe da Fá, a tia Du. Com R$10 era possível levar para casa melancia, banana, laranja, abacaxi e goiaba! Tia Du conseguia comprar até, vejam bem, dez abacaxis por R$1. Um dia chego lá.

A família Nascimento (Nita, Glês, Zeca e Nilson) sempre marcava presença depois da ceia com a família. Às vezes, largava os pais para ficar com a gente. Ô, família de boa vontade! Topava qualquer parada, até mesmo passar a virada do ano, debaixo de uma lona, na chuva, com frio, em cima da serra. De quem foi mesmo aquela idéia de jirico? Minha? Ops, foi mal... É que eu jurava que dava para ver bem melhor os fogos de artifício de lá de cima, mas 20 km realmente fazem diferença.

O amplificador-da-guitarra-do-primo-da-Alexandra era essencial para a festa. Juntando com o computador de alguém, tínhamos a programação da festa inteira, em mp3, com nossas bandas de rock favoritas. Nem vou me dar o trabalho de citar quais porque uma vez alguém colocou, de sacanagem,calypso no meio da programação.

Cada ano, a turma mudava um pouco. Uns iam embora, outros iam chegando, mas todos ajudavam na parte mais prazerosa da festa, a decoração: Claudinha, Fabion, Helve, Guguete, Tiago, Neto, Paulo, Tell.. (se eu esqueci alguém, e, com certeza, eu esqueci, grita aí nos comentários).

Jornal picado no chão era nossa marca registrada, descaradamente copiada de uma festa da turma de arquitetura da Unitins (Universidade Estadual do Tocantins). A vantagem: absorvia tudo o que derramávamos e derrubávamos no chão e quando a festa terminava, era só recolher tudo e ensacar, o chão nem precisava ser lustrado. Que eficiência!

Uma vez passamos dois dias capinando o mato do lote para ninguém se perder no percuso do portão até a casa. Daí, com a empolgação dos meninos, cortamos latinhas, enfiamos estopa e querosene e fizemos um caminho iluminado de tochas, uma trilha bem sinalizada até a festa. Parecia pista de pouso do aeroporto Brigadeiro Lysias Rodrigues. Porém, nossa alegria durou poucos minutos, o suficiente para ficarmos embabascados, com os copos nas mãos, olhando nossa obra de arte. O problema foi quando constatamos o cheiro da querosene impregnar tudo.

Qualquer idéia criativa era válida. Até mesmo obrigar a todos trazerem despertadores para o reveillon. Já que não tínhamos fogos de artífico, nosso barulho ia ser garantido de qualquer jeito. Foi legal, pena que até à 1h eles continuaram a tocar.

Outra vez alguém disse "vamos colocar as lentilhas dentro dos balões para estourar na virada do ano? Assim não precisamos ficar jogando lentilhas para cima!". Juro que não foi eu, mas também não me lembro de quem foi a idéia. Passamos a tarde enfiando lentilhas com um funil, enchendo balões no beiço (e quando estourava algum, era lentilha pra todo lado. E a gente ainda dizia "imagine como vai ser na hora !") e pregando no teto com fita durex.

Só sei que na hora da virada, nem ouvi os fogos ou sequer o ano passar. A única cena era a gente pulando, que nem uns doidos, tentando estourar os balões. O Paulo, mais esperto, arrumou um cabo de vassoura com uma ponta afiada e se divertia estourando os balões em cima da gente. E a guerra ficou estabelecida. Dessa vez tivemos que catar os jornais, varrer e limpar o chão. Poupamos as paredes.

Até que saia barato alegrar as festas com apenas um garrafão de vinho, pois como não tínhamos o hábito de beber, meio garrafão já dava sono e todo mundo ia dormir amontoado na sala (a cerveja veio depois). E o melhor, ninguém ia embora antes do almoço do dia seguinte. Sacudindo os bolsos atrás de moedas, saía um macarrão com resto de ceia... A gente era pobre, mas era FELIZ!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Perfumes IV – Anotações em um Café

Sentei-me numa cafeteria. Mesa posta no corredor do shopping. Logo o aroma do café recendeu ao meu redor. Mas não foi pelo café que me acomodei ali. Foi por um agradável frescor parecido com lírios do brejo. Um floral cítrico e marcante que me atraiu até aquela mesa. Fui seduzida por um perfume tão feminino, fresco e agreste que me fez pensar em aguapés, cabana na beira de um córrego, musgos úmidos numa árvore frondosa, mato.

Eu fui pega de surpresa! Enquanto passeava pelas lojas, senti aquele agradável perfume no ar e saí em busca da fonte. De início, achei que fosse a essência de alecrim da Le Lis Blanc, delicada e ideal para perfumar lençóis de cama, mas me surpreendi ao encontrar uma loja de moda feminina com um perfume próprio que leva o mesmo nome da grife.


Meu nariz me guiou até a mesa EXATAMENTE em frente a uma boutique: Cori.

CORI, de Cori:
Fragância: Floral Frutado
Cabeça: bergamota e neroli.
Coração: rosa, jasmim e violeta.
Fundo: notas secas de chá e notas quentes de noz moscada e pimenta negra.

O frescor me fez pensar no campo. “Associamos cheiros a momentos, pessoas, objetos”, disse-me uma consultora de perfumes no início dessa aventura.


Provo do café sem açúcar para espanto da atendente. “Mas tem certeza que você quer sem açúcar?”. É engraçado como há coisas em que o cheiro é melhor do que o sabor. Café sem açúcar é uma delas. Nectarina tipo exportação é outra. Flor de paineira também. Eu provei uma flor de paineira. Não é bom.

Mas o café amargo me ajuda a “limpar os ares” da miscelânea de odores, principalmente por me fazer espirrar umas cinco vezes. Então, percebi a bergamota no ar...

Entro na loja, peço para provar. A nota de cabeça é floral e rapidamente se dissolve. A primeira impressão do perfume é romantismo. Em seguida, o coração é cítrico trazendo frescor e leveza, a sensação de liberdade e integração com a natureza. Mas a nota de fundo é tão exótica e quente que traduz aconchego.

O perfume tem três momentos: o perfume da manhã, o frescor do dia e o calor de um fogão à lenha no fim de tarde.

Volto à mesa, mais um gole do café frio abandonado, mais uns três espirros (ainda vou morrer pelas narinas). Pago a conta e saio decidida a me engajar em dois novos desafios: Lily Essence, da O Boticário, e Chloé Narcisse, de Karl Lagerfeld.

Achar uma loja do Boticário num shopping é fácil. Difícil foi gostar do Lily...

***


O Lily Essence me enganou. A propaganda é tão boa que me fez acreditar em algo realmente fantástico de tão especial, por resgatar o método enfleurage:

“A enfleurage consiste em usar uma espécie de solvente vegetal para segurar o óleo. No caso de flores frescas, por exemplo, as pétalas são colocadas sobre uma placa de vidro com gordura, que vai absorver o óleo das flores, que são substituídas por flores novas todos os dias, até que a concentração certa seja obtida. Depois de alguns dias, a gordura é filtrada e destilada. O concentrado oleoso que resulta desse processo é misturado ao álcool e novamente destilado. O produto final é o óleo das flores.”

Fonte: Jardim de Flores


A propaganda do Lily é linda, charmosa, evoca o clássico. E como o lírio Stargazer é um dos meus preferidos (depois do Casablanca), fui correndo experimentar o perfume nessa oportunidade inspiradora.

LILY ESSENCE, de O Boticário.
Fragrância: Floral Oriental
Cabeça: mandarina, pêra, pêssego, damasco, pimenta-rosa.
Coração: osmanthus, gardênia, jasmim, rosa, violeta, lírio, íris, narciso.
Fundo: sândalo, musgo, musk, vanilla, patchouli, vetiver, âmbar.


A misturança de frutais logo na cabeça do perfume ficou parecida com o lírio, mas evapora tão rápido que dá para sentir o álcool ardendo nas narinas (quase espirrei de novo). O coração deu uma impressão amadeirada, fixa pouco. Mas no fundo veio o doce das especiarias com toque floral. Não dá para comparar com os perfumes importados, pois lembra demais hidratante corporal pós-praia. E dos mais baratos (alguns vão me fuzilar por isso). É um perfume de verão.

Me fez também pensar em três momentos: Chegar da praia toda ardida e esfolada, tomar um banho frio e ficar vermelha que nem pimentão, e se besuntar em hidratante para sobreviver aos próximos dias.


Quase desanimei em chegar ao Chloé. Mas, tomei coragem e fui.

****

Mas o Chloé Narcisse... Ah, o Chloé! O doce, muito doce Chloé. Esse é para amar ou odiar. Pergunto-me porque a primeira impressão que temos de algo doce é que ele é tão enjoativo que nos repugna para descartamos logo de primeira?


CHLOÉ NARCISSE, de Karl Lagerfeld.
Fragância: Floral Oriental.
Cabeça: ameixa, flor de laranjeira, damasco fresco e calêndula.
Coração: jasmim, rosa, narciso e especiarias exóticas.
Fundo: sândalo, baunilha, musgo, bálsamo e tolú.


Foi com ele que descobri a sutileza dos perfumes. Tudo tem hora e quantidade certa. Ele é um perfume para o amor. Rosas e baunilha para seduzir. Ou como diriam os mais desbocados: perfume de puta.

Mas quem nunca ousou na cama não sabe o que é sedução, ser envolvida além do corpo, uma volta pelos sentidos como num baile de prazeres. Baunilha; como diriam alguns homens, é para comer. É isso o que ele evoca: desejo de devoração.

Na primeira impressão me lembrou benjoim. Achei devocional, forte, algo para templos religiosos. Tive que voltar no dia seguinte para desfazer essa idéia. Mas, explico. A vendedora quase despejou o vidro de perfume em mim, achei que iria sufocar com o impacto, quase gritei “sai, saravá!”.

Então, no dia seguinte, e com a medida certa (um sutil borrifo), alguns minutos de espera e uma fungada no pote de café; descobri algo maravilhoso!

O Chloé com tantas misturas consegue ser homogêneo. Percebe-se um buquê floral com baunilha e só. Aí a imaginação flui... Dá para ir de um bolo quentinho com chá a uma moça corada, juvenil, com flores nas mãos. Então vem o calor e o prazer.

É isso. Perfume para sedução. Exótico, misterioso, adociado. Reservado para noites especiais, eu diria. Para dias frios, para aquecer debaixo de cobertores, blusas e cachecóis.


Como diz a descrição do próprio perfume:

Uma fragrância inspirada nas confidências românticas do diário de Narcisse, uma mulher envolvida em uma história de amor que passa de terna a intensamente sensual. Floral oriental, para mulheres sedutoras, provocantes e misteriosas. Suas notas combinam ameixa, flor de laranjeira, damasco, jasmim, sândalo, musgo e baunilha.”

Fonte: Macherie

Para mim, está mais para os contos eróticos de Anaïs Nin. Perfume, corpos, suor, sensações e prazeres.

Uma pena que a casa Lagerfeld não fabricará mais esse perfume vintage.



*Fim das anotações no Café.



Índice:

Perfumes I - Percorrendo o mundo virtual dos Aromas

Perfumes II - Seguindo Aromas

Perfumes III - Que tipo de perfume combina com você?

Perfumes IV - Anotações no Café

Perfumes V - O Homem do Trem



sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Natal: frutas frescas para assistir os dias que virão


O aroma floral de nectarina, o sabor cítrico-doce da lichia quando se dissolve na boca e do gostoso “ploc” do talo quando se desprende da cereja madura. Isso é Natal para mim, pois essas frutas que adoro só aparecem no final do ano. E tem que ter comida e musiquinha Jingle Bell para eu apreciar as cenas que virão. Por um mês, eu sou telespectadora da transformação radical da sociedade em função de uma data. E me divirto com isso porque sou muito boba.


Acho engraçado os Papais Noel na porta das lojas fazendo “Ho, ho,ho” e outros distribuídos pelos shoppings e supermercados, prontos para ouvir os pedidos e tirar uma foto com as crianças e poucos adultos, como eu.


Alguns, com uma cara de palhaço assassino, dão medo. Outros, com uma falsa barba que dá uma vontade quase-incontrolável de puxar. Mas, quando encontro um com cara de bom velhinho, não resisto, até arrisco fazer um pedido. “Papai Noel, neste ano eu me comportei e quero ganhar bastante dinheiro!”. O pobre Papai Noel de Supermercado se espantou com uma jovem do meu tamanho, largar o carrinho de compras e ir correndo em sua direção fazer tal pedido com tamanha cara de pau. “Para todos nós, minha filha! Para todos nós! Ho, ho, ho,ho, ho”.


Uma vez não resisti, vi um cara vestido de comprimido na porta de uma farmácia fazendo propaganda da loja. Ao passar por ele perguntei “Você é um anticoncepcional ou um Viagra?”. Ele ficou tão assustado com a possibilidade de ser qualquer um dos dois que ficou sem fala. Limitou-se balançar veementes os braços (para cima e para baixo, visto que não era possível dobrá-los) para negar qualquer das possibilidades enquanto eu seguia meu caminho.


Natal para mim tem que ter marotice de criança, Natal de adulto é muito chato. Uma vez um amigo estava trabalhando fotografando crianças sentadas no colo do Papai Noel embaixo de um enorme pinheiro enfeitado. “Vamos fazer uma foto juntos para celebrar nossa amizade?”. “Tudo bem, mas não estou a fim de sentar no colo de nenhum marmanjo”. “A gente espera terminar, coloco o tripé e fazemos uma de nós dois na cadeira do Papai Noel”.


Guardo essa foto com muito carinho. Pois no momento em que colocamos no disparo automático e saímos correndo para sentar na cadeira do Papai Noel, simplesmente não nos cabia juntos e não íamos sentar um no colo do outro visto que ambos éramos compromissados. Com muito empurra-empurra, nos apertamos e saímos na foto com cara de meninos marotos prensados. Como é bom ser criança! Definitivamente, eu mereço presente de Natal.


Volto ao sofá, como minhas cerejas maduras. Aí passam os filmes comoventes na televisão. Filmes bíblicos, desenhos animados de historinhas tristes que terminam com boas ações, balés clássicos de contos de fadas, filmes antigos que são uma delícia de assistir (Mágico de Oz, A Noviça Rebelde entre outros). Todo mundo fica bonzinho, faz boas ações, distribui caridade. Depois do dia 1º de janeiro, tudo volta ao normal...


Não importa, economizamos o ano inteiro para nos empanturrarmos de comida no final do ano e tentar comer num dia só tudo o que não conseguimos nos 363 dias anteriores (conte o reveillon com sua exuberante ceia).


E eu que sou boba, aproveitarei minhas deliciosas frutas vermelhas que só aparecem no final do ano.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Hinoki-Ya: 100 anos da Imigração Japonesa no Brasil

Nessa noite de sexta-feira, 21, na platéia de uma apresentação da banda musical japonesa Hinoki-Ya, no Espaço Funarte, em Brasília, em Comemoração aos 100 Anos da Imigração Japonesa no Brasil, eu fiz uma reflexão. Eu me lembrei que sou metade japonesa.

É estranho falar de uma cultura quando não se sabe ao certo o quanto ela faz parte de você. Metade de mim é brasileira e a outra não. Mas não sei exatamente definir quais partes estão em quê. Costumo dizer às pessoas que esperam certas reações japonesas de mim, que aquilo ficou justamente nos 50% da raça que me falta. Mas me surpreendo quando observo um oriental e percebo que realmente que tenho algumas reações nipônicas, inevitavelmente, genéticas.

A voz levemente nasalada e estridente, o tom seco, os gestos contidos ou o andar meio quadrado e, às vezes, desengonçado. O cabelo liso de fios grossos que ficam espetados quando curtos ou escorridos quando repicados. A marcante falta de ritmo musical, a neurose em cumprir regras e avisos, a necessidade de ordem mesmo na assimetria. Devo ser uma das poucas pessoas no mundo que lêem mural e manual de instrução.

Os japoneses são tão peculiares que me faz acreditar que J. R. Tolkien se inspirou neles para criar os Hobbits em sua ficção literária. O hábito de trocar presentes e de guardar coisas velhas, as superstições mais absurdas, a obstinação em certas ações etc.

Mas meu cabelo mestiço tem fios que não se misturam, finos e grossos. Meu corpo tem curvas que as japonesas não têm, mas não são comparáveis às das brasileiras. Ser mestiço é complicado, é como ser um cão vira-lata, tem uns que prestam e outros que não, mas sempre tem alguém que gosta. Aqui, no Brasil, eu sou japonesa. Lá, no Japão, eu sou brasileira. Sorte minha esse país tropical ser racialmente diversificado.

Meu pai veio para o Brasil com oito anos, em 1961, num navio cujo não sei o nome. Caçula de três filhos, costuma dizer “Eu não vim, me trouxeram”. Meus avôs, tios e o otousan (pai) desembarcaram, como todos os demais, em Santos (SP) e foram trabalhar nas lavouras de café do interior de São Paulo. “Os negros tinham força para o trabalho braçal e comiam comida que os sustentavam no trabalho: milho, arroz e feijão. Nós, japoneses, tínhamos habilidade para mexer com coisas pequenas, delicadas, e comíamos arroz, peixe e chá. Não tínhamos força para a enxada, então começamos a plantar hortaliças”, me contou.

Sei lá como meu avô conseguiu comprar uns hectares de terra no norte do Paraná, mas a família foi trabalhar no campo plantando hortaliças para abastecer supermercados e feiras da região. E foi assim que meu pai conheceu minha mãe, brasileiríssima. E assim eu nasci. E a casa encheu de gente para ver que bicho tinha dado porque japoneses não costumavam se misturar com outras raças.

Quando assisto uma manifestação cultural dos meus ancestrais nihondins (japoneses), é como se estivesse resgatando algo enterrado não tão fundo, mas nem tão raso. E fico me perguntando, “isso faz mesmo parte de mim?”. Deparar-me inesperadamente com um japonês é sempre um susto, como se eu desse de cara com um espelho (e não é pela semelhança). A reação deve ser a mesma do outro lado porque japoneses mesmo quando não se conhecem, cumprimentam-se.

Fui educada até os quatro anos em um sistema japonês com minha obatchan (avó) e ela nem falava português. Mudar para o Estado da Bahia com meus pais na década de 80, quando os Campos Gerais do oeste baiano estavam sendo colonizados pelos sulistas, foi um enorme choque cultural. Além de sermos (eu e minhas irmãs) as únicas japonesinhas da escola, da rua e do bairro, havia palavras que só conhecíamos no idioma natal. Para agravar, puxávamos o R como os sulistas (imagine alguém falando japonês com sotaque do sul) e tínhamos hábitos diferentes dos baianos.

De repente, os outros não eram mais gaijins (não-japoneses), nós é que não éramos (intereiramente) brasileiros. A curiosidade era recíproca. Aprender a respeitar as diferenças e se adaptar a novas culturas foi nossa primeira lição.

Estudei nos hihongakos (escola de japonês) das associações Nipo-Brasileiras das cidades onde morei. Enquanto eu não conseguia pronunciar o hiroganá “tsu”, minha sensei (professora) não conseguia dizer as sílabas “tu”, “lá”, “fá” etc. E eu me sentia ridícula no final do ano por ter que cantar aquelas musiquinhas japonesas, que todos os brasileiros acham engraçadinhas, mas que hoje até me emocionam.

Quando a banda Hinoki-Ya se apresentou nessa noite, misturando música folclórica japonesa com ritmos de outros países (como comentou um amigo “nunca tinha visto japonês hippie”), enfim notei um Japão pós-guerra mais próximo do que o Japão tradicional que meus avôs preservaram enquanto puderam. O Japão tradicional por aqui ainda é tão sólido que o parco idioma que aprendi na infância já virou dialeto lá. Os isseis (japoneses emigrantes) mantêm a tradição de 50 anos atrás.

Mas, é engraçado observar como as culturas vão se integrando, seja na culinária (meu pai até come cheiro-verde, mas com shoyu) ou numa música israelita (com kimono na foto).

Hinoki é uma árvore japonesa, uma espécie de cipreste, comumente utilizada no bonsai. A banda Hinoki-ya me faz crer que os japoneses são como o bonsai, uma árvore que se adapta ao molde de arames e cordas, mas sempre manterá sua raiz, até mesmo por questões biológicas. Crie um japonês em outra cultura, não adianta, há reações que são tipicamente da raça e não há como retirá-las do código genético (por enquanto).

Ps: Praticamente no final do ano comerativo da Imigração Japonesa ao Brasil, resolvi falar sobre o assunto. Antes tarde do que nunca.



quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Perfumes III – Que tipo de perfume combina com você?

Papel e caneta em mãos, vamos aos testes!


Meninas, façam suas escolhas abaixo.

Meninos, tenham paciência e desçam a página.


MULHERES


1 - Clima perfeito:

  1. Céu azul
  2. Calor tropical
  3. Dia frio
  4. Chuvoso
  5. Manhã de outono

2 - Fruta que dá água na boca:

  1. Tangerina fresca
  2. Morangos graúdos
  3. Pêssego suculento
  4. Uvas tenras
  5. Cerejas maduras

3 - Não pode faltar no café da manhã:

  1. Granola e cereais
  2. Bolos e doces
  3. Chá ou café
  4. Leite e frutas
  5. Pães

4 - A bebida ideal para uma comemoração à dois:

  1. Coquetel
  2. Champagne
  3. Vinho branco
  4. Licor ou Whisky
  5. Vinho tinto

5 - O destino da viagem dos seus sonhos é:

  1. Praia paradisíaca
  2. Algum país exótico do Oriente
  3. SPA, campo ou retiro espiritual
  4. Algum roteiro na Europa
  5. Um hotel luxuoso nos Emirados Árabes

6 - O tecido que mais lhe agrada é:

  1. Algodão confortável
  2. Veludo macio
  3. Lã aconchegante
  4. Seda feminina
  5. Jeans casual

7 - Não abre mão de usar perfume:

  1. No início do dia
  2. Em encontros especiais
  3. Finais de semana
  4. Todos os dias
  5. Para sair à noite

8 - Uma extravagância merecida:

  1. O último lançamento tecnológico
  2. Uma lingerie sedutora
  3. A jóia requintada
  4. Um sapato ma-ra-vi-lho-so
  5. O merecido dia no SPA

9 – Um animal de estimação:

  1. Peixe
  2. Cavalo
  3. Gato
  4. Cão
  5. Animal exótico

10 – A noite perfeita é:

  1. Festa para curtir os amigos
  2. Balada para paquerar
  3. Restaurante fino
  4. Passeio romântico
  5. Evento social

Resultado: Some a quantidade de letras marcadas.


A – MODERNA

Perfumes cítricos, florais verdes e unissex.

B – SEDUTORA

Orientais, chipre e especiarias.

C – CLÁSSICA

Florais.

D – ROMÂNTICA

Florais e frutais.

E - GLAMOUROSA

Orientais adocicados.

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HOMENS


Não levem a mal, mas às vezes vocês precisam de explicações para um teste tão subjetivo...

1 - Qual estilo retrata mais o seu gosto?

  1. Sóbrio e formal
  2. Elegante casual
  3. Na moda
  4. Informal

2 – Qual esporte lhe atrai?

  1. Golf ou xadrez
  2. Tênis, beiseball, ping pong ou squash
  3. Esportes radicais
  4. Esportes aquáticos

3 – A comida que mais aprecia (sem contar a da mamãe):

  1. Pratos requintados
  2. Cozinha italiana (massas, pães e muito tomate)
  3. Comidas exóticas (algo tipo testículos de boi, escorpião frito, comida tailandesa etc)
  4. Saladas, fritas e coisinhas saudáveis

4 – Lugar ideal para passar as férias:

  1. Um lugar aconchegante (Europa, chalé, casa da família etc)
  2. Praia paradisíaca ou qualquer outro agito
  3. Ásia ou Oriente Médio
  4. Local inusitado (montanha, trilha, Austrália, Nova Zelândia)

5 – Sua casa ideal é no estilo:

  1. Apartamento duplex High Tech
  2. Casarão clássico ou histórico
  3. Uma mistura de vários estilos e peças
  4. Loft informal e casual

6 – Você curte mais:

  1. Carro conversível ou sedam
  2. Pickup ou carro utilitário
  3. Moto
  4. Carro esportivo

7 – Drink preferido:

  1. Whisky
  2. Cerveja
  3. Vinho ou conhaque
  4. Vodka

8 – No cinema, o filme tem que ser:

  1. Histórico ou bibliográfico
  2. Aventura, ação ou policial
  3. Ficção científica
  4. Terror ou suspense

9 – Animal de estimação:

  1. Pássaro
  2. Peixe
  3. Gato
  4. Cão

10 – O tipo de mulher que lhe atrai:

  1. Charmosa e bem vestida
  2. Elegante e discreta
  3. Sedutora e atraente
  4. Despojada e dinâmica


Resultado: Some a quantidade de letras marcadas.



A – SOFISTICADO

Todos os nuances de amadeirados

B – CLÁSSICO

Fougére, amadeirados e cítricos

C – SEDUTOR

Orientais e fougére.

D – ESPORTIVO

Cítricos





*Teste baseado no Guia de Perfumes Officiel 2009, parte itegrante da revista Officiel edição nº 25, Duetto Editorial, Setembro de 2008.


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Aqui tem mais para os preguiçosos:


Testes para Mulheres I, Mulheres II (cadastradas no site Bolsa de Mulher), Adolescentes e resumo para os homens (impacientes para responder questionários).


Para entender mais sobre perfumaria (tipos de perfumes, fixação, notas de cabeça, coração ou fundo), recomendo o Wikipédia.


Índice:

Perfumes I - Percorrendo o mundo virtual dos Aromas

Perfumes II - Seguindo Aromas

Perfumes III - Que tipo de perfume combina com você?
Perfumes IV - Anotações no Café
Perfumes V - O Homem do Trem

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Perfumes II – Seguindo Aromas


Estou seguindo um homem perfumado!!!

Eu sabia que essa história de perfume ia render...

Ele nem é meu
tipo, mas é a segunda vez que o encontro no mesmo vagão do metrô. Grisalho, “enternado” no padrão brasiliense, uns 1,77m, uns 50 anos, distinto.

Ele passa e deixa um rastro de perfume. E eu, a pessoa mais desligada desse mundo, entretida no meu mundinho mp4, o percebo passar.

Meu
nariz reconhece bem duas coisas: café com ou sem açúcar e perfume bom.

Eu sei que conheço esse aroma, só não tenho certeza se é... Aguço o faro e tento me recordar: fundo amadeirado, notas do coração floral e notas de cabeça refrescante.

Hum, perfume de Homem. Isso é muito bom.


Entro no vagão logo atrás, me sento no banco da frente, o único disponível além da vaga ao lado dele. Me sinto ridícula e visualizo a cena: eu, ilustre desconhecida, me virando, com a cara de pau mais lustrada do mundo, e perguntando que perfume é aquele, tentando demonstrar que n
ão estou interessada no usuário.

Faltando uma estação para eu descer, enfim, tomo coragem para perguntar. Antes mesmo de concluir meu tímido “me desculpe, mas o perfume que você usa é o...” percebo que, por baixo dos óculos escuros... Ele está dormindo!


Foi-se a coragem... A voz impessoal informa, o trem chegou ao meu destino. Descemos os dois na mesma estação.

Subimos juntos no mesmo degrau da escada rolante. E aquele perfume estonteante dominando ao redor.


Ao pa
ssar pela catraca, estrategicamente passo a andar um passo atrás, no rastro do aroma, pisando em nuvens ao mesmo tempo em que sorrio achando graça dessa cena digna de Sherlock Holmes. “Madeira, âmbar, floral... talvez gengibre?”

Seguimos para a mesma saída. Separarmos-nos em seguida, destinos opostos. Mas já resolvi que na próxima viagem não deixarei a oportunidade escapar, hei de descobrir que perfume é aquele!


Agora entendo
minha amiga que dizia que não se importava se o cara era feio e chato desde que ele cheirasse bem. E isso ficou comprovado na pesquisa realizada nesse blog, concluída em 26/11.

Incrível, 47% das mulheres que responderam à enquete se sentem atraídas primeiramente pelo perfume masculino. Enquanto que 50% dos homens são atraídos por seios e bumbum.

Caramba! Se essa enquete estiver correta, vou ter que empinar os seios e o bumbum para ele me notar, e não dormir, na próxima oportunidade...







Índice:

Perfumes I - Percorrendo o mundo virtual dos Aromas

Perfumes II - Seguindo Aromas

Perfumes III - Que tipo de perfume combina com você?

Perfumes IV - Anotações no Café

Perfumes V - O Homem do Trem




Ps: devido ao fato relatado, o teste sobre combinações de perfumes ficou para o próximo post se meu PC não der pau novamente.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Perfumes I – Percorrendo o mundo virtual dos aromas



Fui desafiada a escrever sobre perfumes, aromas e essências. E tenho que admitir, está sendo um grande desafio por ser um tema pouco explorado por mim.

Não sou uma especialista, então tive que recorrer ao método jornalístico: pesquisa prévia, levantamento de fontes, entrevistas e, por último, testes.


Depois de muitas conversas, consultas e rascunhos, as portas do mundo sensorial se abriram... Sinestésico!


Como o tema é instigante e com tanta informação, eu não sabia o que eliminar para não ficar um post tão grande.


Para solucionar a questão, resolvi postar por partes. E no primeiro capítulo dessa aventura, narro minha empolgação e frustrações iniciais:


Eu: Oi, estou escrevendo sobre perfumes, poderia me dar uma opinião?


Entrevistado 1: Não uso perfume. Não gosto. Cheiros me enjoam e me fazem passar mal, até nos outros.


Entrevistado 2: Sou pobre, não entendo nada disso. É melhor perguntar a outra pessoa.


Entrevistado 3: Eu gosto do cheiro da pele quando a pessoa acorda de manhã...


Entrevistado 4: Poxa, que legal! Quero dicas, não entendo nada de perfumes e preciso de indicações. Vou pelo seu blog, hein?


Eu queria soluções e as pessoas me davam indagações. Meu erro foi acreditar que ouvindo opiniões distintas, teria um mundo sensorial. Era melhor ir direto à fonte: uma vendedora de perfumes.


Então, Entrevistado nº 4, essa é especialmente para você!

Os mais vendidos:


Femininos: Channel nº 5 (Chanel), Angel (Thierry Mugler), Gabriela Sabatini (Gabriela Sabatini), J'adore (Dior), Dolce&Gabbana (Dolce Gabbana), Flower (Kenzo), Laguna (Salvador Dali), Eternity (Calvin Klein), Amour Amour (Lâncome) e os nacionais Floratta In Gold (Boticário) e Criska (Natura).


Masculinos: Polo (Halph Lauren), Ferrari Black (Ferrari), Kouros (Yves Saint Laurent), Armani (Armani), Poison (Dior), UDV (Ulric De Varens) e os nacionais Kaiak (Natura) e Dimitri e Uomini (Boticário).




Os mais admirados:


As mulheres adoram neles: Hugo Boss (Hugo Boss), Animale (Animale), Safari (Ralph Lauren), 212 Sexy Man (Carolina Herrera), Fahrenheit (Dior), Espirit (Antonio Banderas), Azzarro (Azarro), Mont Blanc (Montblanc), Joop! (Joop). Entre os nacionais, a aposta certa é no Kaiak (Natura), Urban Code , Vezzo e Ladro (L'acqua di Fiori) e Uomini, Portinari e Malbec (Boticário).

Os homens adoram nelas: 212 Sexy (Carolina Herrera), Dolce&Gabbana, Hypnotic Poison (Dior), Inizzio Amore (L'acqua di Fiori), Criska e Humor (Natura), Egeo Dolce e Floratta in Gold (Boticário) e quase todos da Lâncome e Cacharel (...).


Conclusão: para seduzir, os homens devem usar perfumes amadeirados e as mulheres, adocicados.




Claro, há uns detalhes importantes a serem levados em conta.



1) Perfume + odor da pele = reação química.

Cientificamente falando, nossos hábitos alimentares influenciam diretamente nos odores naturais do corpo. Não é o mesmo num papelzinho provador, é melhor provar na pele.


2) Recomendações de bom senso:

Cítricos e florais são mais indicados para o dia ou noites quentes.

Amadeirados e doces para usar a noite ou em dias frios.


3) Locais que esquentam mais, por tanto indicados para uso: pulsos, nuca e nas dobras dos braços e pernas. No caso dos Eau de Parfum (alta concentração), o indicado é borrifar para cima, deixando que a “suave nuvem aromática” recaia sobre sua cabeça (aos pés)... Senão ninguém vai suportar manter-se ao se lado por mais “cheiroso” que você ache que esteja... Vai por mim.


OK. Já temos uma noção do espírito aromático que circunda nossa áurea corporal. Mas como saber que perfume combina mais com você? Isso é o tema do próximo capítulo desta novela (sim, se tornou uma novela). Não perca!

Porque até eu tive que descobrir que tipo de perfume combina comigo...







Índice:

Perfumes I - Percorrendo o mundo virtual dos Aromas

Perfumes II - Seguindo Aromas

Perfumes III - Que tipo de perfume combina com você?
Perfumes IV - Anotações no Café
Perfumes V - O Homem do Trem