Eu tenho que dar uma satisfação aos leitores desse blog.
Passei o carnaval achando que estava com berne no pé e que teria pego na trilha que fiz no Tocantins para ver as incrições rupestres há três semanas. Depois de andar horas por uma trilha de deixar qualquer ser desesperado, tirei a bota apertada por 10 minutos para descansar. Então, fui picada no pé por um mosquitão.
Na semana seguinte, logo que cheguei na Bahia, no sábado, bem cedinho, passei na feira e comprei fumo de corda, seguindo a tradição popular. Botei no pé e tampei com bandagem por um dia. No final da tarde, depois da sofrida expremeção da mamãe, arranquei um berne do pé. Que nojo!
Queria ter cortado meu pé fora, se ele não me fosse útil. O Ulisses, de Brasília (DF), queria ver sangue e torcia pela decepação, já que eu não sou jogadora de futebol e nem escrevo com este membro (e ainda poderia concorrer nas vagas de deficiente físico nos concursos públicos).
Mas, havia outra ferida logo abaixo e eu sentia coceira. Passei mais fumo e nada. Passei na farmácia, no domingo, e comprei uma pomada multiuso (antiinflamatório, anti-bacteriana e analgésica) e nada. Fui no postinho de saúde, na segunda-feira, e o médico disse que eu teria que desinchar o pé primeiro para fazer uma incisão e ver se era realmente um berne, mas teria que fazer o procedimento cirúrgico em um hospital.
Se eu abrisse o pé, teria jogado o abadá fora e não pularia o carnaval com minha amiga Janaína. E de qualquer forma, hospital particular decente só na quinta-feira. Fui, como todos sabem, de pé inchado para a avenida, afinal ele não estava doendo. E ainda peguei gripe, me perdi dentro do bloco e fiz amigos na enfermaria e no camarote dos dodóis no trio elétrico.
Eu já estava até pegando amor pelo monstrinho no meu pé, eu dizia que em breve ia parir um berne. E todos me davam receitas malucas.
Minha prima zootecnista de Juazeiro (BA) dizia para eu passar éter, é o que os zootecnistas passam no gado. Ou então creolina. E que se o verme não desmaiasse, tentasse tocar fogo...
Ouvi mil conselhos de gordurinha de porco (toucinho) para atrair o bichano para o bacon. Outros diziam para pingar vela no respiradouro e tentar puxar pra fora. Ou gelo, água quente, álcool, fita crepe, urina etc. De qualquer forma, teria que passar pela situação nojenta e traumática (de novo) de puxar um corpo estranho com minhas próprias mãos. Achei melhor ir no médico, meus amigos estavam tentando me matar.
Hoje consegui ser atendida numa clínica com meu plano de saúde de Brasília, mas só por ser uma urgência. Tive que explicar que eu estava criando um monstro. Na Bahia não há casos de berne, isso é coisa dos Estados do Norte e Centro-Oeste.
-Berne??? O que é isso?
- Um verme gigante, cabeludo, nojento, que te devora por dentro.
O médico ficou curioso. Mandou dizer que ia me atender. Em 29 anos de profissão na Bahia só atendeu dois casos desses. Na primeira vez, ele retirou um bichano de 1,5 cm e quase saiu correndo assustado.
Sentei na maca e me prepararam para o pequeno procedimento cirúrgico. Achei melhor vigiar...
-Você quer mesmo assistir a este procedimento?
-Por que não?
-Acho melhor você deitar (com um olhar suspeito).
Imaginei cenas dos filmes de terror "A Mosca", "A Coisa" e os livros do Stephen King, então achei que realmente era melhor me deitar.
Ahá! Estão pensando que o meu berne já teria uns 5 cm, não é? Então vocês tinham que ter visto a cara de decepção do médico. Nada de bicho. Um pouco de pus e mais nada. Me cortaram a tôa.
Por via das dúvidas, me passou Ivermectina, Cefadroxil e continuar a Nimisulid receitada pelo médico do postinho. Ele acha que foi algum outro inseto que me picou e irritou a pele (viu, Ulisses?). Ufa!
O chato é ficar com o pé enfaixado em estado inicial de mumificação. Mas, quem pensa que eu iria gastar meus últimos dias de férias de molho em casa, se enganou novamente. Depois do almoço, fui descer o Rio de Ondas de bóia com um saco de lixo amarrado no pé.
Um cliente do meu cunhado acha que o verme me abandonou no carnaval durante a folia. Acho que nunca saberemos...